Empresa de São José dos Campos entra no mercado de pesquisa em microgravidade

Lançada a bordo de um foguete VSB-30, plataforma desenvolvida pela Orbital Engenharia faz história e se qualifica para atuar no seleto mercado de pesquisas em ambiente de microgravidade

No total, 6 minutos e 8 segundos.

Esse foi o tempo em que a plataforma desenvolvida e produzida pela empresa Orbital Engenharia ficou em ambiente de microgravidade, bem acima de 110 quilômetros de altitude. Tempo suficiente para fazer história.

Lançada em 23 de outubro por um foguete VSB-30, produzido pelo IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), do Centro de Lançamento de Alcântara (MA), a plataforma da Orbital foi o primeiro artefato do gênero, 100% nacional, a conseguir esse feito, o que coloca o Brasil –e a empresa, nascida em 2001, em São José dos Campos (SP)– no seleto mercado de ofertar, ao mundo, serviços de pesquisas em ambiente de microgravidade. Esse ambiente, onde a influência da aceleração gravitacional é menor sobre os objetos, é essencial para experimentos avançados da indústria de fármacos, de saúde, de materiais, de metalurgia e do agronegócio, entre outras.

Batizada de PSM-MQ (sigla de Plataforma Suborbital de Microgravidade – Modelo de Qualificação), a carga útil da Orbital levou, em seu interior, neste primeiro voo, um forno desenvolvido pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), onde um experimento de solidificação de ligas metálicas teve seus dados transmitidos, em tempo real, da plataforma para o CLA e disponibilizados aos pesquisadores também em tempo real. A carga útil levou 4 minutos e 1 segundo para atingir o apogeu, o ponto mais alto de sua trajetória, a 227 quilômetros da superfície da Terra. No total, do lançamento até o pouso, no mar, a operação, denominada de “Santa Branca”, durou 7 minutos e 44 segundos, acompanhados de muita expectativa em terra.

“O sucesso da missão representa a realização de um sonho, do lançamento ao resgate dos experimentos em alto-mar, a 185 quilômetros da costa”, disse o CEO da Orbital Engenharia, Célio Costa Vaz.

O sucesso no voo de qualificação da PSM-MQ abre novos horizontes. De um lado, a carga útil desenvolvida pela Orbital Engenharia pode ser utilizada no Programa Brasileiro de Microgravidade, ligado à AEB (Agência Espacial Brasileira). Nessa seara, ela integra o projeto da nacionalização de um conjunto vetor completo (foguete + plataforma) voltado para pesquisas em microgravidade. Isso é um grande passo para o Brasil, que, atualmente utiliza para os seus experimentos a carga útil MicroG, desenvolvida pela DLR (Agência Espacial Alemã), também integrada ao foguete brasileiro VSB-30.

Em outra frente, o sucesso da PSM-MQ faz da Orbital um “player” do mercado privado de experimentos em microgravidade, dominado, atualmente, pelos Estados Unidos e pela Alemanha.

Para isso, o próximo passo é marcar presença no mercado norte-americano, segundo o CEO da empresa, com a criação de uma startup ligada à Orbital na Flórida (EUA). “Muitas empresas, inclusive brasileiras, usam a Estação Espacial Internacional para experimentos em microgravidade. Isso abre uma janela de oportunidade para nós: oferecer serviços de experimentação em ambiente de microgravidade para pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico a um custo menor, com lançamento a partir da Alcântara”, disse Vaz.

A carga útil foi desenvolvida pela Orbital em parceria com o IAE, com apoio da Agência Espacial Brasileira e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Em sua configuração máxima, ela é formada por cinco módulos de experimentação, cada um com 50 centímetros de altura e 35 centímetros de diâmetro.

A empresa

A Orbital Engenharia atua no desenvolvimento e no fornecimento de tecnologias inovadoras nas áreas de projetos, fabricação, montagem, integração e testes de sistemas, subsistemas e equipamentos para Defesa e Espaço. Credenciada como Empresa Estratégica de Defesa (EED), a Orbital atua em programas de ponta, como na produção de geradores solares para satélites brasileiros, como o Amazônia 1, e os da família CBERS, desenvolvidos em parceria Brasil-China; e no desenvolvimento de tecnologias disruptivas nas áreas de nanotecnologia e propulsão hipersônica.

 

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