Wanderlea In Concert Clube Paulistano
A icônica cantora Wanderléa lotou as dependências do luxuoso Teatro do Clube Paulistano com um show onde resumiu toda sua carreira de seis décadas. A cereja do bolo foi sua filha e de seu marido Lalo Califórinia (seu produtor e guitarrista, em destaque nos shows pelo Brasil), a lindíssima Jadde Flores, que cantou e dançou com performances que encantaram a alta roda paulistana. A direção e realização do espetáculo foram de Thaigo Marques Luiz dentro do programa 70+ do tradicional Clube.
Nota da Redaçao:
LALO CALIFORNIA E chileno de santiago, músico guitarrista, compositor, arranjador é produtor musical. Radicado no Brasil na cidade de São Paulo. Desenvolve trabalhos instrumental e Trilhas para Cinema.
Wanderléa e seu livro autobiográfico Foi Assim:
Wanderléa começou a escrever Foi assim ; Autobiografia como uma espécie de terapia. Ícone da Jovem Guarda, apelidada de ternurinha por todo o Brasil, a cantora tomou a caneta para relembrar momentos difíceis. Escreveu, em formato de diário, sobre dois abortos realizados antes dos 30 anos, a morte do pai, o acidente que fraturou a coluna do marido, José Renato, a perda do filho Léo, aos dois anos, a morte do irmão querido e o assassinato da irmã. Quando uma editora descobriu o material, quis publicá-lo, mas Wanderléa não tinha certeza. ;Não aceitei de cara;, conta. ;Mesmo depois de ter dito sim para a editora, fiquei ainda uns 15 anos com esses escritos guardados. Eu tinha um ciúme, um apego, porque você escrever na primeira pessoa é uma coisa muito delicada. Foi muito difícil entregar o trabalho.;
Ao receber a autobiografia, a editora achou que os relatos das tragédias vividas pela cantora ocupavam espaço maior que as realizações da carreira. Com a ajuda do jornalista Renato Vieira, Wanderléa se debruçou então sobre os louros para dar a Foi assim um equilíbrio que ela mesma já havia encontrado há muito. ;Eu me identifiquei logo de cara com o Renato porque ele sabia tudo da minha carreira e me ajudou a revisitar as memórias dos bons acontecimentos da minha vida. Foi um processo interessante porque eu relembrei coisas de início de carreira;, garante.
Wanderléa estreou nos palcos ainda menina. Nos anos 1950, aos 9 anos, ganhou o concurso do programa de televisão A mais bela voz infantil. Não foi o primeiro, mas foi um marco que levaria a voz da artista para todo o país. O encontro com Roberto Carlos aconteceria poucos anos depois, quando os dois passaram a frequentar o estúdio da mesma gravadora, antes de começarem a gravar, ao lado de Erasmo Carlos, o programa Jovem guarda, veiculado na TV Record entre 1965 e 1968.
Foi assim é cheio de detalhes dessa trajetória. O primeiro beijo roubado por Roberto Carlos, o sucesso, a rejeição e, mais tarde, a aceitação do pai para a carreira da filha, a rebeldia que a fazia comprar motos e carros esportivos conversíveis, as apresentações em um leprosário quando ninguém queria interagir com os doentes, tudo escrito com muita generosidade e sinceridade. O toque pessoal está presente, apesar de Wanderléa ter contado com a ajuda de um jornalista para escrever e organizar as histórias. Há datas, mas nem sempre elas estão presentes, e o tom confessional está por todo o livro. As passagens mais marcantes são as mais trágicas.
O acidente de José Renato, o primeiro marido, filho de Chacrinha, durante um mergulho em uma piscina não foi o primeiro drama da cantora, que perdera uma irmã, assassinada por uma bala perdida, e o pai, de quem era muito próxima. Anos depois, Wanderléa perderia também o filho Leonardo, o primeiro do casamento com Lalo, com quem se casou depois de se separar de José Renato. Leo morreu afogado na piscina de casa enquanto a mãe gravava uma participação no programa de Flávio Cavalcanti, no SBT. A cantora conta que nunca teve tempo de viver profundamente seus lutos por conta da carreira, que se desenvolvia muito bem. ; Normalmente, você tem um tempo para destilar tudo, e eu não tive;, lembra.
Mãe de Yasmin e Jadde, casada com o guitarrista chileno Lalo Califórnia há 43 felizes anos e já avó, Wanderléa embarcou em uma experiência que nunca havia vivido. Em abril, de 2017 ela estreou o musical 60! Década de arromba, dirigido Frederico Reder e no qual vive ela mesma. O espetáculo foi um passeio musical pela década que teve movimentos como a Bossa Nova, a Tropicália e a Jovem Guarda. Foi diferente de fazer um show. O sucesso foi retumbante de deu novo rumo a carreira de sucessos, com apoio de uma nova geração.