OS DESAFIOS DA MEDICINA NOS DIAS DE HOJE  E NO FUTURO , SEGUNDO MÉDICOS E ESTUDANTES

No dia do Médico, comemorado em 18 de outubro, estudantes de medicina relatam suas experiências de vida e profissionais com décadas de trabalho contam sobre os desafios que vem para a profissão nos próximos anos.

Data, 18 de outubro de 2024 – Desde que nasceu, a paranaense Maria Eduarda Carvalho Catani, hoje com 21 anos de idade, convive com a rotina do pai, o médico otorrinolaringologista Guilherme Catani. “Sempre acompanhei a rotina dele, vendo essa felicidade que ele transmitia ao poder ajudar outras pessoas. Então, isso sempre me encantou muito. É um exemplo, é um ídolo para mim”, contou a estudante que, ao passar para o curso de medicina em Brusque, deixou Curitiba e veio seguir seu sonho e o mesmo caminho do pai. “Eu acho que ser médico é uma profissão que você consegue ajudar diretamente as pessoas, promover o bem-estar e saúde. Então, isso sempre me encantou muito. Além disso, eu acho muito legal essa parte de conciliar o conhecimento técnico e científico com a prática”, completou.

E a prática veio antes da hora. Em 2020, quando iniciou a pandemia de covid-19 os estudantes também ajudaram como podiam. “Eu estava ainda nas primeiras fases do curso, então a gente fazia um serviço de telemedicina, que seria o telemonitoramento. A gente telefonava para a casa das pessoas que tinham um resultado positivo para a Covid, para fazer perguntas sobre como elas estavam. Se tinha alguma queixa, a gente passava algumas orientações e se fosse um caso mais grave, que necessita mesmo de um atendimento médico, a gente orientava o paciente e avisava também os nossos preceptores desses casos mais especiais”, relata.

Já o brusquense Bruno Arnon Bittencourt, de 34 anos de idade, diz que nasceu com o dom da medicina. Sem parentes médicos, ele conversava mais com os pais, tios e avós dos amigos, que eram médicos. “Muitas vezes eu frequentava a casa dos amigos e ficava mais de papo com os pais dos amigos do que com o próprio amigo. E teve alguns processos de adoecimento na minha família também que demandaram maior frequência em hospitais, clínicas e exames e demais. E nisso também foi me despertando interesse de querer saber mais o que estava acontecendo e conversar com esse pessoal. Fiz alguns amigos já naquela época. E foi me criando essa vontade que eu fui alimentando com o tempo até que eu consegui realmente entrar no curso de medicina, na primeira turma de Brusque”, conta.

O estudante já pensa no futuro e especialidade que pretende seguir. “Agora estamos no último estágio do internato, com bastante prática e eu já estou efetuando o estágio na UBS Dom Joaquim, em Brusque, junto com meus colegas.  Já quero logo trabalhar, poder botar as contas em dia, o financiamento da faculdade, essas coisas, e em 2026 quero entrar na residência de psiquiatria”, diz o estudante, cuja formatura é no final deste ano.

A EXPERIÊNCIA DE OUTRAS GERAÇÕES
Algumas vezes, o dom da medicina nasce com a pessoa, em outras, o futuro médico já nasce com ele e ganha um “ajudinha” da convivência com outros familiares que seguiram na mesma profissão, que também foi o caso do médico Jonas Sebastiany. “A opção pela medicina foi algo natural, a partir do momento em que convivi muito com meus tios e com meu pai. O hospital, de certa forma, foi o quintal da minha casa ou um prolongamento dela. Todos os meus tios eram médicos e nós tínhamos um hospital no interior do Rio Grande do Sul. Nada mais natural do que eu cursar Medicina, com a grata satisfação de fazer a minha formação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde me formei há 31 anos”, conta o médico.

O profissional trabalhou em hospitais em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, durante a graduação, como o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o Hospital de Pronto-Socorro (HPS) e também a Santa Casa de Misericórdia. Em Brusque, atuou durante dez anos no Hospital Azambuja, onde diz que “conheceu muitos colegas competentes, pessoas maravilhosas, com quem até hoje eu tenho excelente relacionamento”. Sua experiência o levou a ser presidente da Associação Brusquense de Medicina – ABM, durante dois mandatos. “É uma entidade pela qual eu nutro um grande carinho que, efetivamente, merece todo o respeito, admiração e que tem reconhecimento de todo o Estado como uma das melhores de Santa Catarina”.

DESAFIOS PARA O FUTURO
Segundo o médico, com o passar dos anos, os desafios dos profissionais vão mudando. “Os desafios do médico da atualidade diferem bastante daqueles que enfrentavam os meus tios, por exemplo, e meu avô, que também era médico, os quais estavam mais relacionados a problemas de ordem técnica, de falta de recursos, de dificuldade de acesso a alguns insumos. Hoje, isso está mais fácil, mais próximo, mas, ao mesmo tempo, desenvolvemos uma dificuldade no relacionamento com os pacientes. Existe um certo distanciamento e uma certa perda de credibilidade, na minha opinião, até pela quantidade de profissionais que ‘descambam para algumas atividades não tão éticas’, digamos assim, e acabam maculando a imagem da profissão. São poucos, obviamente, mas que de alguma maneira acabam mudando um pouco o conceito da população em relação à importância da nossa profissão”, explica Sebastiany.

Um exemplo, de acordo com médico, foi na época da pandemia. “Durante o recente período de pandemia, vivenciamos um inusitado momento de valorização da profissão. Mas, lamentavelmente, parece que rapidamente as pessoas esqueceram daqueles colegas que perderam a vida, e não foram poucos, em benefício da vida daqueles que muitas vezes eles desconheciam”, ressaltou.

Ainda de acordo com o médico Jonas Sebastiany, “os desafios para a profissão médica nos próximos anos, na experiência que eu tenho vivenciado como conselheiro do Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina – CRM, é de preocupação em relação à formação dos novos médicos. Nem todas as universidades, nem todas as faculdades de medicina levam a sério a responsabilidade de formação médica e nós temos encontrado, pelo Brasil afora, problemas importantes em relação à qualidade da formação médica e isso impacta não só no conceito da profissão, como na segurança para os pacientes e para a comunidade em geral”.

Porém, segundo Sebastiany, a esperança está nas novas gerações que ainda planejam oferecer qualidade de vida para seus pacientes e atendimentos, cada vez mais humanizados, como sonham a Maria Eduarda e o Bruno. “Eu acho que essa é uma profissão tão bonita para quem gosta mesmo de trabalhar nela e eu estou bastante ansioso para, finalmente, ter o carimbo em mãos e poder trabalhar, ajudar e construir um futuro melhor”, conclui o Bruno. “Para o futuro, minha expectativa é poder contribuir para a qualidade de vida e para o bem-estar dos meus pacientes. Pretendo continuar estudando, me especializando constantemente para oferecer sempre o melhor atendimento possível para eles. E, quem sabe, atuar na parte de educação médica e ajudar na formação da próxima geração dos médicos”, finaliza a futura médica, Maria Eduarda.

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