Dar entrevistas é uma coisa que faz parte de nossas vidas e é bom que faça. Significa que alguém se interessa pelo que fazemos. Pelo menos teoricamente. Claro que isso nem sempre significa consistência. Em carreiras longas como já posso considerar a minha, que completou 40 anos em 2021, já me vi diante de inúmeras situações, das mais diversas. Então, quando num dia de exaustivas entrevistas e programações, vem alguém e diz “agora é Adriana Del Ré”, e tive o prazer de ouvir isso muitas vezes na vida, sempre foi um grande alívio. Porque é muito importante conversar com quem sabe por que está ali, alguém que conhece nosso percurso e preza o que está ouvindo. As melhores entrevistas sempre partem do entrevistador, a meu ver. Em como ele desperta no entrevistado o desejo de falar, de se abrir. Então, acho bonito que, depois de todos esses anos, eu hoje esteja aqui, desta vez para desejar boa estreia, boa sorte, que este livro traga muitas alegrias e retornos da vida à sua autora. Adriana gosta do que faz. E isso a gente sente no tipo de silêncio atento em que ela mergulha, quando respondemos às suas perguntas. Obrigada por ouvir, perguntar, se interessar e agora nos dar esse documento de alguns dos seus passos, que passam pelos nossos! Até breve, até sempre!
Por Zélia Duncan
—
Ubiratan Brasil
Uma entrevista jornalística só acontece de fato quando um triângulo se forma, construção na qual o cimento se chama confiança – primeiro para estabelecer o jogo entre entrevistador e entrevistado, pessoas que muitas vezes não se conhecem mas que firmam um acordo mútuo de colaboração. Afinal, uma vez compartilhadas com outra pessoa, as confissões tornam-se públicas. E, fechando esse triângulo, surge o vértice mais importante, o leitor, cujo julgamento praticamente determina o sucesso ou o fracasso daquela entrevista.
É possível dizer que a jornalista Adriana Del Ré, um dos pontos desse triângulo que sempre se renova, sai-se vencedora nessa complicada, mas fascinante relação. Basta pinçar qualquer uma das entrevistas selecionadas para esse livro, fruto de seu trabalho como repórter do Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo.
Vamos à prova? Escolhi aleatoriamente um texto publicado em agosto de 2018, que traz uma conversa com Gilberto Gil que, à época, estava prestes a estrear um programa de televisão ao mesmo tempo em que utilizava seu novo disco, Ok Ok Ok, para refletir sobre o envelhecimento. As primeiras palavras do texto (“Existe uma plenitude no olhar de Gilberto Gil, de quem passou por uma tempestade e saiu ileso”) já bastam para captar a atenção do leitor (prova de que o sucesso da matéria é iminente) ao mesmo tempo em que prepara esse mesmo leitor para o emocionante teor da conversa que vai se descortinar em palavras diante de seus olhos.
Não é uma tarefa fácil, acredite. O entrevistado é, muitas vezes, alguém que vive o dualismo entre o desejo de contar sua história e o temor de ser mal interpretado. Pior: de suas palavras serem usadas contra si. Ao entrevistador, cabe a tarefa de quebrar o gelo até ganhar o voto de confiança de quem lhe conta uma história – atingido esse ponto, tudo se torna tranquilo como num voo em céu de brigadeiro.
Adriana tem o raro talento de conseguir as melhores histórias de seus entrevistados, muitas vezes arrancando confissões que só são declaradas pela consciência de que estarão em boas mãos. E, por falar nisso, Adriana é ciosa com o próprio texto, buscando sempre a melhor palavra, a expressão exata, aquelas que encantam e não enganam, tornando-a uma profissional respeitada no meio cultural brasileiro. Um trabalho tão meticuloso que, às vezes, transformava o processo de fechamento do jornal em uma verdadeira aventura, com Adriana gastando todos os minutos que lhe cabiam para deixar o texto final próximo da perfeição. Uma empreitada bem-sucedida, pois, ao final, todos saíam vencedores: a repórter, o entrevistado e, principalmente, o leitor.
(Fonte: www.letrasdobrasil.com.br)
(Agradecimentos: Silvia Neubern, assessoria de imprensa e Relaçoes públicas)
__