O dia 20 de março de 2023, foi um dia, muito marcante. Não pela apreensão temorosa do mercado, em função da quebra de bancos do hemisfério norte e uma eventual crise financeira ou pela guerra no leste europeu, mas devido um relatório de 37 páginas, divulgado pelas organizações das Nações Unidas (ONU). O relatório que é de responsabilidade do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, da ONU (IPCC) afirma que a Terra deve atingir seu limite, ou “ponto de não retorno”, em 2030. Assustadoramente, antes do esperado. O estudo também é um “guia de sobrevivência para a humanidade”. Segundo o relatório, as emissões de gases de efeito estufa precisam diminuir significativos 43% até 2030.
O tema de proteção climáticas vem sendo discutido desde a década de 70, mas ganhou mais relevância, nos últimos anos, principalmente com a agenda ESG. Um ponto muito importante dessa jornada de atenção com o clima, foi o Acordo de Paris, durante a conferência das nações unidas sobre mudanças climáticas 21 (COP), momento em que os governos estabeleceram a meta de limitar o aquecimento global em no máximo 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, contudo especialistas apontam no relatório que o mundo já aqueceu 1,1°C e deve ultrapassar os 1,5°C na década de 2030
O que tenho sempre percebido, enquanto verbalizo sobre o assunto, em palestras, aulas e afins, é que muitas pessoas, tem a dificuldade de mensurar o impacto de 1,5°C. De fato, à primeira vista, parece que se trata de muito pouco, assim, gostaria lhe propor um exercício.
Entre no seu carro, e feche todas as janelas, em seguida estabilize a temperatura de forma a lhe proporcionar um agradável conforto térmico. Em seguida, ajuste a temperatura em mais 1,5 °C. Certamente perceberá a diferença.
Ou seja, tudo depende da fronteira de análise e nesse caso a fronteira e a camada de ozônio global. Você pode imaginar que estamos falando de uma fronteira muito grande, de proporções praticamente inimagináveis na verdade, agora, de posse desse entendimento, imagine o volume de energia que está sendo liberada para o aumento dessa temperatura.
Segundo o relatório as concentrações de CO2 na atmosfera são as mais altas em 2 milhões de anos. O mundo está mais quente do que nos últimos 125 mil anos e com tendência de piora, ou seja, de elevação na temperatura.
O secretário-geral das Nações Unidas para assuntos de mudança climáticas, Antônio Guterres, enfatiza que todos os países devem apresentar planos para zerar a emissão de combustíveis fósseis em uma década. Segundo o secretário essa é uma condição para se garantir um futuro habitável e sustentável para todos e que existe uma janela de oportunidade, mas que se fechará rapidamente.
E Apesar de tudo isso, na contramão dessa necessidade, vemos projetos como o a mina de carvão em Whitehaven na região da Cumbria no Reino Unido, que mesmo com grande pressão contraria, foi liberada pelo governo, importante ressaltar que essa liberação é a primeira em três décadas. A expectativa é que a mina, produza 2,8 milhões de toneladas de carvão de coque por ano – bem como 400 mil toneladas de CO2e.
Outro exemplo, que caminha no mesmo sentido, ou seja, na contramão da necessidade, foi a aprovação americana em 2021 do “Projeto Willow”. O projeto de extração de petróleo e gás no Alasca, tem capacidade de 180 mil barris por dia, o que equivale em 279 milhões de toneladas de CO2e ao longo de sua vida útil.
Enquanto isso, temos que 79% das emissões globais de gases de efeito estufa vieram dos setores de energia, indústria e transporte e 22% da agricultura, silvicultura e de outras formas de uso da terra.
Observamos que a maior parcela, está em energia, indústria e transportes ou seja precisamos urgentemente, migrar para fontes de energias renováveis, uma indústria pautada e conceitos de circularidade e transportes com força motriz elétrica.
Eis mais alguns pontos de destaque do relatório:
1. A necessidade de frear a produção de combustível fóssil e reduzir subsídios para a indústria causadora do problema;
2. A urgência de investimento em mitigação para limitar o aquecimento global a 1,5°C ou 2°C;
3. A importância de políticas públicas de redução focando em transporte público e mobilidade ativa, além de campanhas de conscientização;
4. O impacto das mudanças climáticas na biodiversidade, com riscos de extinção de espécies e perda irreversível em ecossistemas;
5. Os impactos adversos generalizados e perdas e danos relacionados à natureza e às pessoas, com comunidades vulneráveis sendo desproporcionalmente afetadas;
6. As lacunas de adaptação e a insuficiência de fluxos financeiros globais para adaptação, especialmente em países em desenvolvimento;
7. O aumento dos riscos e impactos adversos projetados e as perdas e danos relacionados à mudança climática com o aumento do aquecimento global;
8. As mudanças simultâneas e múltiplas que cada região deve experimentar, incluindo a subida relativa do nível do mar e eventos extremos, ciclones tropicais, aridez e temporada de incêndio;
9. A lacuna de implementação das políticas climáticas ao redor do mundo, mesmo com as metas anunciadas antes da COP 26.
Agora, em um ambiente de guerra e colapso do sistema financeiro, gera-se uma expectativa muito grande para a COP28, que acontecerá em novembro em Dubai, principalmente uma vez que a última conferência, deixou um gosto de retrocesso nos acordos de proteção climática.
Esperamos que seja tomada decisões eficazes e com pensamento coletivo pois o último relatório do IPCC, não se trata mais de um alerta da comunidade científica, mas trata-se do princípio mais básico sobrevivência. Ou mudamos a rota agora, ou nos restará a catástrofe. A emergência climática deu lugar a uma emergência humanitária.
Por: Marcelo Souza – CEO Indústria Fox, escritor e professor.
No Linkedin: @marcelosouza
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Fundada em 2009, a Indústria Fox é pioneira em reciclagem com base na captação de gases no Brasil, foi a primeira fábrica de produção reversa de refrigeradores na América do Sul e se tornou referência em gestão e solução de armazenagem, manutenção, reforma e reparo de equipamentos. A empresa se posiciona com programas próprios de eficiência energética, além de processos de remanufatura de produtos. Com isso, é a única no Brasil a unir os três pilares de reciclagem, remanufatura e eficiência energética. Tudo isso alinhado com novas tecnologias e desenvolvimento de economia circular e indústria 4.0.